Endometriose

O que é Endometriose

A Endometriose é caracterizada pela presença de tecido semelhante ao Endométrio (tecido que forma a menstruação) fora do útero.

Todos os meses, por influência dos hormônios do ciclo menstrual, o Endométrio espera uma possível gravidez. Se ela não acontece, o endométrio descama e é eliminado em forma de menstruação. A enfermidade acontece quando o sangue da menstruação, que contém células do endométrio, sofre um refluxo para a cavidade pélvica por meio das pelas trompas de falópio. As células endométricas se alojam em órgãos da cavidade abdominal e promovem uma reação inflamatória exacerbada decorrente de alterações genéticas e moleculares encontradas nas pacientes portadoras de Endometriose.

Essa inflamação promove um processo cicatricial que evolui com aderências fixas entre os órgãos pélvicos, distorcendo a sua anatomia.

Sintomas da Endometriose

Os sintomas da endometriose são crônicos e tendem a piorar progressivamente com a evolução da doença. Em 70% dos casos iniciam ainda na adolescência com quadro de cólica menstrual intensa muitas vezes incapacitante. A doença também cursa com dor pélvica fora da menstruação, dor na relação sexual além de sintomas intestinais e urinários e pode provocar infertilidade.

Outros sintomas bastante frequentes da doença são:

  • Dor no baixo abdômen ou cólicas que podem ocorrer por uma semana ou duas antes da menstruação de forma cíclica

  • Dores ao urinar e evacuar, especialmente no período menstrual

  • Infertilidade

  • Fadiga

  • Diarreia.

A intensidade da dor não está relacionada à extensão do problema. Algumas mulheres com doença muito extensa não têm dor alguma, enquanto outras com pequenos focos sentem dor a ponto de necessitarem ir a uma emergência.

A Endometriose altera a qualidade de vida das mulheres. O sofrimento continuo provocado pela doença faz com que elas paguem um preço pessoal incomensurável. Faltam às atividades escolares e de lazer, ausência ao trabalho, baixo rendimento profissional, falta de equilibrio emocional para enfrentar as dificuldades conjugais e familiares.

A despeito do pouco conhecimento sobre a doença pela sociedade e até mesmo por profissionais da saúde, as mulheres e as famílias das portadoras de endometriose sofrem pelos males que ela provoca sem perceber.

Diagnóstico de Endometriose

O diagnóstico da Endometriose é clínico e depende de uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso, que inclui:

• História clínica da paciente

• Investigação das queixas principais relacionadas com a doença, por meio de questionários da função vesical e intestinal, bem como escalas analógicas de dor, que podem estar relacionadas ou não com o ciclo menstrual.

• Exame físico minucioso, com palpação abdominal, exames especular, toque vaginal e retal.

• Exame neurológico do plexo lombo-sacral (testes de acometimento da inervação somatossensorial da cintura pélvica e membros inferiores)

A Endometriose e a Infertilidade

De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), entre 50% e 70% das mulheres com a doença são inférteis. A condição de infertilidade pode ser desencadeada por vários motivos:

  • Distorção anatômica – obstrução das trompas e presença de aderências que impedem o transporte do óvulo até o encontro com os espermatozoides, no interior da tuba uterina.

  • Mudanças no fluido peritoneal – produção de substâncias e células inflamatórias que interferem na interação óvulo-espermatozoide.

  • Desordens ovulatórias – provocadas pelas substâncias inflamatórias e por modificações nos folículos ovarianos.

  • Alterações foliculares e embrionárias.

  • Anormalidades miometriais.

  • Desordens de implantação embrionária – alterações endometriais pela produção local de estrogênio e resistência à progesterona.

Tratamento da Endometriose

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A endometriose é uma doença crônica e progressiva. A falta de tratamento causa processos de aderências e infiltração dos focos da doença em órgãos próximos a pelve, podendo atingir o intestino, os ovários e a bexiga. Além disso, pode causar infertilidade em casos avançados e quadros de dores crônicas, mesmo fora do período menstrual, que não melhoram com medicações analgésicas

Tratamento Clínico

Quando a Endometriose está em níveis mais brandos, a recomendação é a interrupção do ciclo menstrual. Para isso, são usadas pílulas anticoncepcionais com estrogênio e progesterona de modo contínuo, ou seja, sem pausas para menstruar. Também podem ser usados progestagênios isolados, na forma de pílulas, injetável ou mesmo DIU, com o objetivo de minimizar o avanço da doença.

O tratamento à base de hormônios não reverte o quadro da doença, apenas impede que ela evolua.

Tratamento Cirúrgico

As principais indicações cirúrgicas são:

• Dor resistente ao tratamento clínico;

• Presença de grandes endometriomas ovarianos;

• Estenose de ureteres;

• Comprometimento intestinal com estenose e insucessos repetidos em fertilizações assistidas.

Através da técnica de laparoscopia, pode-se remover todos os focos, drenar os cistos endométricos e depois retirar a capa que os reveste. Pode-se ainda fazer a ressecção de porções intestinais ou de bexiga quando há lesões envolvendo esses órgãos. Em alguns casos, a histerectomia (retirada do útero, trompas e dos ovários também pode ser realizada).

A Endometriose pode ser classificada como:

  • Endometriose Peritonial, quando acomete as superfícies peritoniais que revestem os órgãos abdominais aprofundando-se por até 5mm;
  • Endometriose Ovariana, quando acomete a superfície e/ou interior dos ovários (endometriomas)
  • Endometriose Profunda Infiltrativa, quando aprofunda-se no peritônio por mais de 5mm. Esse último afeta de 20 a 35% das pacientes.

Os locais de acometimento da doença na pelve podem ser divididos em:

  • Endometriose do Compartimento Anterior: envolve ligamentos redondos do útero, parede anterior do útero, miométrio, a bexiga, os óstios ureterais;
  • Endometriose do Compartimento Posterior: envolve a vagina, o septo reto-vaginal, a região retrocervical, a parede posterior do útero, o miométrio, os ligamentos úterossacros, os paramétrios, os ureteres, o reto, o sigmóide, os nervos pélvicos, os músculos do assoalho pélvico, intestino delgado, intestino grosso e apêndice cecal;
  • Endometriose do Compartimento Lateral: envolve as lesões do compartimento posterior, associadas com o comprometimento dos nervos viscerais da pelve (plexo hipogástrico superior, nervos hipogástricos, plexo pélvico, nervos esplâncnicos, bem como as raízes sacrais e os nervos somáticos do assoalho pélvico).