Menopausa

A pirâmide populacional mostra que o número de mulheres acima de 40 anos de idade está aumentando significativamente em todos os países do mundo. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade das mulheres já está nessa faixa etária e no ano de 2050 se ultrapassará a marca de 50%. Com o declínio das taxas de natalidade, as mulheres climatéricas estarão se tornando majoritárias nos consultórios em relação às gestantes

Frequentemente, os sintomas próprios do climatério podem se iniciar logo após os 40 anos de idade, e essa tem sido a faixa etária que se convencionou para delimitar a insuficiência ovariana prematura do período pré-menopáusico natural. Portanto, a partir dos 40 anos de idade, as mulheres merecem atenção diferenciada, considerando que após esse período elas estão mais suscetíveis a doenças crônico-degenerativas como diabetes, hipertensão, doenças da tireoide, entre outras, e aos cânceres, particularmente o de colo uterino e de mama, que podem ser preveníveis e/ou rastreados.

Na vida da mulher, a transição entre o estágio reprodutivo e o não reprodutivo é denominada climatério. Nessa fase, as mulheres apresentam inúmeras necessidades de prevenção de doenças e de promoção de saúde, e os médicos devem estar atentos a uma série de condutas direcionadas à otimização da qualidade de vida. A consulta ginecológica é uma excelente oportunidade de suprir essas necessidades

A síndrome do climatério é um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da interação entre fatores socioculturais, psicológicos e endócrinos que ocorrem na mulher que envelhece. Seu diagnóstico é clínico nas mulheres com faixa etária esperada para a hipofunção ovariana.

O termo “menopausa” se refere à data do último episódio de sangramento menstrual apresentado pela mulher e sua definição é feita retrospectivamente após 12 meses sem menstruar. Acontece em média aos 51 anos, e 90% das mulheres apresentam a menopausa entre os 45 e os 55 anos de idade.

Mulheres na transição menopausal apresentam necessidades de prevenção de doenças e de promoção de saúde. O hipoestrogenismo associado ao envelhecimento e à síndrome metabólica pode levar a diminuição da qualidade de vida e maior ocorrência de doença cardiovascular

Sintomas

Os sintomas vasomotores, também conhecidos como fogachos ou ondas de calor, são os mais frequentemente associados à transição menopausal. Consistem em sensações súbitas de calor na região central do corpo, mais notadamente na região da face, tórax e pescoço, e duram em média três a quatro minutos. Frequentemente ocorre aumento na frequência cardíaca, vasodilatação periférica, elevação da temperatura cutânea e sudorese. Quando ocorrem durante a madrugada, podem se associar a insônia.

Em consequência da diminuição da produção ovariana de inibina B no final da quarta década de vida, pode ocorrer aumento nas concentrações séricas de FSH e de estradiol no início do ciclo, levando a encurtamento da fase folicular. O nível de progesterona na fase lútea também diminui devido à piora da qualidade do corpo lúteo. Um dos primeiros sinais da diminuição da reserva ovariana é o encurtamento do intervalo entre as menstruações.

RASTREAMENTOS

Durante o climatério, é essencial que a mulher seja avaliada de forma individualizada para que suas necessidades de prevenção de doenças e promoção de saúde sejam supridas:

Câncer de mama

O câncer de mama é a segunda neoplasia mais frequente entre mulheres brasileiras, com uma incidência estimada em 66.280 casos novos para cada ano do triênio 2020-2022, correspondendo a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres.

A Febrasgo sugere que, para mulheres com risco habitual, o rastreamento do câncer de mama seja iniciado aos 40 anos. A mamografia é o exame recomendado, com periodicidade anual (se estiver normal). O rastreamento do câncer de mama pode ser interrompido quando a expectativa de vida for menor que sete anos ou quando não houver condições clínicas para o diagnóstico ou tratamento de uma mulher com exame alterado.

Câncer de colo uterino

O câncer do colo uterino é a quarta neoplasia mais frequente entre as mulheres brasileiras, com uma estimativa de 16.590 casos novos para cada ano do triênio 2020-2022 e risco estimado de 15,43 casos para cada 100 mil mulheres.

O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o exame citopatológico como método de escolha para o rastreamento de lesões precursoras. Orienta-se que a coleta seja iniciada aos 25 anos de idade para mulheres que já iniciaram atividade sexual, com intervalo anual entre os dois primeiros exames. Se os dois primeiros resultados forem normais, a coleta passa a ser realizada com intervalo trienal. Caso a paciente possua dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos, o rastreamento citológico pode ser interrompido após os 64 anos de idade se a mulher nunca tiver apresentado histórico de lesão precursora pré-invasiva, inclusive se houver troca de parceiro sexual.

Mulheres sem antecedentes de lesões precursoras do câncer de colo uterino não necessitam continuar o rastreamento após a realização de histerectomia total por doença benigna. É de extrema importância ressaltar o fato de que a avaliação clínica ginecológica por meio do exame ginecológico deve ser mantida periodicamente, independentemente da realização do exame citopatológico.

Câncer de colorretal

O câncer colorretal é a terceira neoplasia mais frequente entre mulheres brasileiras, com estimativa de 20.470 casos novos no triênio 2020-2022 e risco estimado de 19,03 casos para cada 100 mil mulheres.

No Brasil, o Ministério da Saúde considera que pessoas com risco habitual de câncer colorretal devem realizar rastreamento a partir dos 50 anos de idade, por meio de pesquisa de sangue oculto nas fezes, anualmente, ou colonoscopia, sem periodicidade estabelecida. Esse esquema de rastreamento pode ser diferente dependendo do contexto regional. A Sociedade Americana de Câncer orienta que o rastreamento em pacientes com fatores de risco habitual seja iniciado aos 45 anos, podendo ser feito com testes estruturais ou não estruturais, já a Sociedade Norte-americana de Menopausa (NAMS) considera que, a partir dos 50 anos, a colonoscopia a cada 10 anos (se o resultado do exame for considerado normal) é um esquema adequado de rastreamento para pacientes. com risco habitual para câncer de cólon. Ressalta-se que casos suspeitos de doença colorretal devem ser encaminhados para avaliação pelo médico especialista.

Doenças Cardiovasculares

Após a menopausa, o efeito benéfico do estrogênio endógeno no sistema cardiovascular é mitigado, e o número de eventos cardiovasculares aumenta. Rastrear fatores de risco como diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e obesidade é fundamental para a estratificação do risco e elaboração de planos terapêuticos.

Fator de risco para doença cardiovascular

Dislipidemia (colesterol anormalmente elevado ou gorduras no sangue): Rastreamento a partir dos 45 anos em mulheres de alto risco para DCV

Obesidade: Circunferência da cintura ≥ 89 cm é considerada elevada e indicativa de maior risco cardiovascular

Diabetes: Se não tiver fatores de risco, rastrear a partir dos 45 anos sem periodicidade definida (possivelmente a cada 3-5 anos)

Hipertensão arterial: Rastreamento em adultos (>18 anos). Periodicidade não estabelecida

Tabagismo: Abordagem breve com cinco passos (os cinco As): 1. Aborde quanto ao uso de tabaco; 2. Aconselhe a abandonar o tabagismo por meio de uma mensagem clara e personalizada; 3. Avalie a disposição em parar de fumar;
4. Assista-a a parar; 5. Arranje condições para o seguimento e suporte da paciente.

Osteoporose

A osteoporose é frequentemente assintomática. Seu diagnóstico por meio do exame de densitometria óssea (DMO) ou por meio da documentação de uma fratura por fragilidade óssea assintomática é fundamental para a instituição de tratamento adequado. Recomenda-se que a DMO seja realizada para todas as mulheres acima dos 65 anos de idade. Mulheres climatéricas com idade inferior a 65 anos que apresentem algum fator de risco para baixa massa óssea (Quadro 4) também devem realizar o exame.

Fraturas por fragilidade óssea ocorrem na ausência de trauma ou na vigência de um trauma “menor”, frequentemente na coluna toracolombar, punho e quadril. São a manifestação mais comum da osteoporose, podendo ser assintomáticas em até 70% dos casos. Como seu diagnóstico é fundamental para instituição de terapêutica adequada e redução no risco de novas fraturas, recomenda-se a realização de radiografia toracolombar para mulheres com as características descritas no Quadro 5:

Depressão

A transição menopausal é uma janela de vulnerabilidade para o desenvolvimento de alterações do humor e de transtornos depressivos. O risco de apresentar sintomas é elevado durante a perimenopausa, mesmo em mulheres sem histórico pessoal de transtorno depressivo. Não existem questionários específicos para o rastreamento de transtornos do humor em mulheres na menopausa, entretanto algumas ferramentas de rastreamento geral como o PHQ-9 podem ser utilizadas.

Doenças sexualmente transmissíveis.

A alta prevalência de síndrome geniturinária da menopausa, que predispõe ao sangramento durante o ato sexual, associada à maior acessibilidade ao tratamento da disfunção erétil masculina, colabora para maior chance de infecção. O aconselhamento comportamental quanto ao uso de preservativos e o tratamento da síndrome geniturinária da menopausa são importantes ferramentas para diminuir esse risco.

Fonte: Febrasgo