Malformação mulleriana
As malformações uterinas, ou anomalias Müllerianas congênitas, são alterações na anatomia do útero causadas por fusão embriológica defeituosa ou falhas na recanalização dos ductos de Müller na formação de cavidade uterina normal. É difícil determinar a incidência dessas anomalias pois não apresentam sintomas, mas estima-se que possam variar dentre 2 a 5% da população geral.
Os defeitos congênitos uterinos mais comuns são:
Agenesia: presença de cornos rudimentares ou nenhuma estrutura uterina. A associação com agenesia de terço superior de vagina denomina-se Síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser.
Defeitos de fusão lateral: são o tipo mais comum, sendo resultado de falha na formação de um ducto, na fusão destes ductos ou na reabsorção do septo entre eles. Dentre estes defeitos temos útero septado (parcial ou completo), útero arqueado, útero unicorno, útero bicorno,
Defeitos de fusão vertical: são resultado da falha de fusão distal dos ductos Müllerianos com o seio urogenital ou defeitos na recanalização vaginal, resultando na formação de septos vaginais.
As principais manifestações clínicas são as relacionadas à dor, que pode ocorrer no início da vida reprodutiva em decorrência de alguma obstrução ou ser associada à endometriose. As anormalidades uterinas não dificultam a concepção e a implantação. Entretanto, se as anomalias uterinas não forem diagnosticadas nos anos iniciais da vida reprodutiva, as manifestações clínicas poderão ser observadas e diagnosticadas após complicações obstétricas como: abortos de repetição, partos prematuros, restrição de crescimento fetal, apresentações anômalas, distocias no parto e pré-eclâmpsia.
Diagnóstico
O primeiro passo para o diagnóstico das malformações uterinas é o exame ginecológico. Algumas malformações cervicais e vaginais como aplasia, duplicidade cervical e septo longitudinal podem ser percebidas pela simples inspeção. Já as dilatações secundárias à obstrução do fluxo menstrual podem ser verificadas com a palpação.
A avaliação também contempla a ultrassonografia transvaginal ou pélvica para investigação de dor ou massa pélvica e pela histerossalpingografia em decorrência de infertilidade. Esses dois exames são considerados a primeira linha de investigação, podendo ser indicada uma avaliação adicional com ultrassonografia tridimensional e ressonância magnética.
Tratamento
O tratamento para as anomalias uterinas congênitas é exclusivamente cirúrgico, visando restaurar a arquitetura uterina normal e preservar a fertilidade. Ele está recomendado para pacientes com perdas gestacionais recorrentes, devendo ser evitado em pacientes assintomáticas ou com infertilidade primária. É importante ressaltar que o tratamento cirúrgico nem sempre é eficaz, visto que alterações vasculares ou funcionais do endométrio, miométrio e colo uterino podem também estar presentes.
Fonte: Febrasgo